Antonio Candido de Melo e Sousa, paulista carioca, mestre da crítica literária (autor, entre outros, dos clássicos "Formação da literatura brasileira" e "Literatura e sociedade"), criticou Gilberto Freire porque escrevia seu nome com "y" ("Freyre") e não com "i" ("Freire"). Gilberto Freire não gostou, mas não reclamou. Algum tempo depois, Antonio Candido telefonou para Gilberto Freire, que atendeu: - Quem fala? É o Antonio Candido? O Antonio sem o circunflexo no "ô" de "Antônio" e no "â" de "Cândido", com "Mello" de dois "elles" e "Souza" com "z"? Mas os pernambucanos nem sempre são tão sutis. João Alexandre Barbosa, consagrado crítico literário, fazia concurso para a Universidade de Pernambuco. Na banca, o renomado professor Antonio Candido, e o extraordinário Ariano Suassuna. Antonio Candido elogiou Alexandre: - Ele tem notório e notável saber. Suassuna interrompeu Antonio Candido: - Até concordo com o professor Antonio Candido. Mas há uma grande diferença entre notório e notável. Alguns políticos de Pernambuco são ladrões notórios. Já Lampião foi um ladrão notável. O PSDB foi fundado dizendo-se um "partido de notáveis". Agora, o procurador geral da República, Antonio Fernando de Souza, mostra que não é bem assim. Tem seus "notáveis". Mas também um punhado de "notórios". O "mensalão" do PT tinha o mesmo DNA do "mensalinho" de Minas. Não importa que o tamanho da roubalheira não tenha comparação. Mas está provado que os tucanos mineiros também têm seus "notórios". No jogo do poder nacional, Pernambuco há bastante tempo só tinha forte mesmo o matuzalêmico e perpétuo "notável" Marco Maciel. De repente, brotou uma safra nova de "notáveis": Sergio Guerra na presidência nacional do PSDB, José Mucio Monteiro como ministro da Articulação Política e Mauricio Rands como líder do PT na Câmara. Lula não vale. Não é Pernambuco, não é São Paulo, não é deste mundo. O PT é filho de cobra. Nunca tem nada a ver com a mãe ou os filhos, sejam idéias ou atos. Em um jantar do PT em Juiz de Fora, o ministro do Bolsa Família, Patrus Ananias, das melhores gentes do partido, perguntado sobre o golpe do terceiro mandato para Lula, derrapou na História: "E se o povo quiser"? Se a lógica fosse essa, o PT, o Patrus e os milhares de companheiros deles e nossos, presos, cassados, torturados (os assassinados foram calados) em Minas, estariam impedidos de qualquer crítica ao golpe de 64, porque "a maioria do povo quis". Enganada, engambelada, estupidificada, mas quis. Se o critério é "o que o povo quer", Medici foi melhor do que Lula. Durante décadas, a gula dos donos de rádios no País tudo fez para fechar a "Voz do Brasil". Alegavam que já havia rádios de sobra e não era preciso mais uma hora cativa para notícias do Executivo, do Congresso e do Judiciário. O argumento era de um cinismo de hiena bêbada. Quem já viajou pelo País inteiro, sobretudo tempos atrás, sabe que há imensas regiões onde as outras rádios não chegam, porque a população é pequena, rala e não interessa aos anunciantes pagarem audiências mínimas. Pois é exatamente nesses lugares que a "Voz do Brasil", mesmo até hoje, é a única fonte de notícias públicas, ou governamentais, para a população. Hoje, com a TV, melhorou bastante, mas é ilusão imaginar que a TV particular vai a toda parte e sobretudo com notícias de interesse coletivo. Uma noite, e não foi há muito tempo, viajando de carro, no interior de Roraima, a caminho da Venezuela, de Boa Vista a Santa Helena, na fronteira (ia conhecer o petróleo do Orinoco), tentei ter alguma notícia. Ali só se pegava a Globo que, naquele dia, por falta de transmissão, não estava chegando. Na chuva, salvaram-me um motel de beira de estrada e não o Rum Creosotado do anúncio, mas a "Voz do Brasil". A Câmara viverá esta semana a primeira batalha da TV Pública (a medida provisória criando a EBC, Empresa Brasileira de Comunicação). Para ser mais uma "TV do governo", não teria sentido: a TV Globo já está aí, cumprindo airosa e voluptuosamente sua bem paga função, agora ajudada pelo novo soldado do governo, o "bispo do povo" Edir Macedo. Mas a TV Pública pode ser mesmo uma "TV Pública" sem ser uma TV do governo. Se a Inglaterra, a França, a Itália, a Espanha, toda a Europa, conseguiram criar e manter televisões públicas (como a BBC, as francesas, as italianas, a espanhola, a portuguesa) realmente públicas e não governamentais, por que no Brasil não conseguiríamos? Vai depender muito da vigilância do Congresso e da própria imprensa। Sobretudo de nós jornalistas. Se há tanto tempo os conhecemos, devemos um voto de confiança a profissionais honrados e provados como Franklin Martins, Tereza Cruvinel, Helena Chagas, Orlando Senna, que estão no comando. Olho neles e, se não for o que se espera, pau neles.Notórios e notáveis
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terça-feira, 27 de novembro de 2007
Sebastião Nery e a TV Pública
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