segunda-feira, 30 de março de 2015

Novo ministro da Educação chega ao cargo com ideias arrojadas

28/3/2015 20:26
Por Redação - de Brasília e São Paulo

Janine Ribeiro é um intelectual respeitado no meio acadêmico
Janine Ribeiro é um intelectual respeitado no meio acadêmico

Novo ministro da Educação, o filósofo Renato Janine Ribeiro, professor de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo, é o substituto do ex-governador do Ceará Cid Gomes, que deixou o governo após um bate-boca com deputados no plenário da Câmara. A posse do novo ministro vai ocorrer em 6 de abril, segundo a Presidência.
Ribeiro é formado em filosofia pela USP, tem mestrado pela Sorbonne, doutorado pela USP e pós-doutorado pela British Library. O novo ministro da Educação, área apontada como prioritária pela presidente Dilma Rousseff em seu segundo mandato, tem ainda 18 livros publicados além de vários ensaios e artigos em publicações científicas.
Em entrevista a jornalistas, neste sábado, Ribeiro disse apenas que recebeu o convite da presidente Dilma Rousseff “com satisfação” e que fará uma “imersão” sobre os temas mais importantes da pasta, que assumirá no dia 6 de abril.
– Até lá, eu vou ter que me dedicar muito ao tema. Não vou dar declarações até a data porque se trata de um ministério muito complexo, embora eu conheça a área de educação e já tenha trabalhado no ministério antes – disse.
Ao ser questionado sobre o lema “Pátria Educadora”, lançado pela presidente Dilma Rousseff logo após a vitória eleitoral de 2014, não fez qualquer objeção.
– É uma política de governo da presidente que será mantida – afirmou.
Filósofo homenageado no campo acadêmico, Ribeiro concluiu seu mestrado pela prestigiada universidade francesa de Sorbonne aos 23 anos e, depois, o doutorado pela Universidade de São Paulo. No Ministério que agora chefia, foi diretor de avaliação da Capes, fundação do Ministério da Educação, entre 2004 e 2008. Além disso, foi membro do Conselho Deliberativo do CNPq, entre 1993 e 1997, do Conselho da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), de 1997 a 1999, e secretário da SBPC, de 1999 a 2001. Além disso, publicou 18 livros. Entre eles, “A sociedade contra o social”, ganhador do Prêmio Jabuti 2001.
Janine Ribeiro, um nome respeitado pela academia, pode reabrir os canais de diálogo entre o governo Dilma e os intelectuais, no momento em que o PT é alvo de uma escalada de ódio político. Na educação, suas ideias são consideradas arrojadas e ele defende currículos mais abertos, que estimulem a criatividade dos estudantes.
“A educação não termina no último dia do ensino profissional ou do curso superior, nem nunca”, disse ele, num artigo recente publicado no diário especializado Valor Econômico.
“Há milhares de profissões”, afirmou. “No limite, cada um cria a sua. Profissão, emprego, orientação sexual, estado civil, crenças políticas e religiosas, tudo isso se combina como um arco-íris felizmente enlouquecido. Ninguém é mais obrigado a se moldar a um pacote. Mas isso não é fácil, exige uma interminável descoberta de si e, por que não dizer, coragem pessoal.”
O novo ministro defende, ainda, um associação cada vez maior entre educação e cultura. “Cada vez mais, a educação deverá se culturalizar: um, deixando de seguir currículos rígidos; dois, tornando-se prazerosa; três, criativa.”
Leia, a seguir, um trecho do seu artigo:
A Cultura deixará de ser o sobrinho menor da Educação. O próprio caráter imprevisível da ação cultural e a dificuldade de planejá-la fazem dela um dos modelos para o que deve ser a educação numa sociedade criativa. Deve-se conservar na educação um currículo norteador, que leve da infância à idade adulta. Mas para entender o mundo que hoje desponta é bom ter claro o seguinte: a educação não termina no último dia do ensino profissional ou do curso superior – nem nunca.
Alguns diplomas, como o de médico, até poderão ser concedidos com exigência de atualização, a cada tantos anos. Essa atualização será dada por cursos avaliados e fará parte da área da Educação. Mas além das atualizações obrigatórias, previstas em lei, será necessário – e demandado – um crescente leque de cursos abertos, sem definição profissional, que aumentarão incrivelmente a qualidade da vida dos alunos. Já temos iniciativas neste sentido, inclusive uma empresarial (a Casa do Saber), que têm dado certo. Enfatizo: esses cursos serão mais culturais, não estritamente educacionais. Para cada curso de atualização em genoma para profissionais de saúde, haverá dezenas sobre filmes de conflitos entre pais e filhos, de aprendizado com religiões distantes, de arte em videogames, destinados a cidadãos em geral, de qualquer profissão – e a lista não acaba.
A cultura é indutora de liberdade. Romances, filmes e mesmo novelas nos abrem para experiências com as quais, no mundinho em que cada um nasceu e cresce, nunca pudemos sonhar. (É inquietante como estamos voltando a viver em guetos; a própria dificuldade de tantos aceitarem que houve gente que votou diferente deles, na recente eleição, é sinal desse fechamento de cada grupo sobre si – o que pode limitar a capacidade de cada um se enriquecer com a compreensão do outro, do diferente).
Quem cresceu num meio limitado pode descobrir que o sentido de sua vida é a fotografia (como o jovem favelado que é o narrador do filme “Cidade de Deus”): um artista se revela. Ou um menino sensível, alvo de “bullying” na escola, descobre que é homossexual e que não está sozinho no mundo: um ser humano se liberta da ignorância que o prendia. Assim, a cultura aumenta seu próprio contingente – com a descoberta de novos artistas – mas, acima de tudo, amplia a liberdade humana.
Hoje, pela primeira vez na história mundial, cada um de nós pode efetuar a sintonia mais fina possível de sua vocação. Antigamente, cada pessoa vivia num pacote identitário: por exemplo, homem branco abonado, casado, filhos, advogado ou médico ou engenheiro. Tudo isso vinha junto. Hoje, as possibilidades se ampliaram muitíssimo. Há milhares de profissões. No limite, cada um cria a sua. Profissão, emprego, orientação sexual, estado civil, crenças políticas e religiosas, tudo isso se combina como um arco-íris felizmente enlouquecido. Ninguém é mais obrigado a se moldar a um pacote. Mas isso não é fácil, exige uma interminável descoberta de si e, por que não dizer, coragem pessoal. A cultura ajuda aqui, porque nenhum setor da aventura humana nos capacita tanto para, cada um de nós, descobrir sua diversidade única.”
Em um blog na internet, Janine também organiza alguns dos principais artigos que publicou ao longo de sua vida acadêmica.
Entre os temas abordados, constam temas como “a nova política” (leia aqui), a democracia direta (leia aqui), e os dilemas entre a ética pura e a ética de responsabilidade, adotada por quem assume funções políticas (leia aqui). “É política assim a ação que assume como seu o ponto de vista da criação, que pretende moldar, criar, o social. Há política quando nos fazemos sujeitos de uma realidade, isto é, quando não a tomamos por dada, ou por independente da ação humana, mas a concebemos como resultando dessa ação – e, melhor ainda, nos propomos a agir, moldando o mundo”, diz ele.

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Piso nacional dos professores de educação básica sobe 13,01%

Brasil e Mundo

06/01/2015-19h10 - Atualizado em 07/01/2015-01h42
 
O piso nacional dos professores da educação básica terá reajuste de 13,01%, dos atuais R$ 1.697 para R$ 1.917,78. Isso significa que nenhum docente da rede pública do País, do ensino infantil ao médio, com jornada de 40 horas semanais, poderá ter remuneração abaixo desse valor.
O percentual do aumento foi divulgado ontem pelo Ministério da Educação e segue fórmula estabelecida em lei de 2008. No ano passado, o reajuste foi de 8,34%.
Segundo levantamento mais recente da CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação), de maio do ano passado, 10 Estados ainda pagam abaixo do piso.
De acordo com a legislação, o aumento da remuneração dos professores tem como referência o crescimento, de um ano para outro, do custo do aluno dos anos iniciais do ensino fundamental no Fundeb, fundo nacional para financiar o ensino público.
Composto por uma parte da arrecadação de diferentes impostos, o Fundeb é impactado pelo comportamento da economia: quanto maior o crescimento do País, maior a arrecadação do fundo e, assim, maior o reajuste do professor.
Gestores alegam que esse modelo precisa ser alterado, sob risco de comprometer ainda mais o orçamento enxuto dos Estados e municípios. O argumento é de que a divulgação do reajuste em janeiro, como previsto em lei, acaba afetando a programação dos gastos anuais, já concluída anteriormente.
Nos últimos dois dias, o piso foi tema de reuniões do novo ministro da Educação, Cid Gomes (Pros), com entidades que representam os Estados, municípios e trabalhadores da educação. A intenção agora é retomar as discussões sobre revisão do modelo de cálculo do piso.
| FOLHAPRESS

domingo, 4 de janeiro de 2015

Cid Gomes defende reforma no currículo do ensino médio

Novo ministro da Educação recebeu o cargo do petista Henrique Paim.
Segundo ele, currículos têm de levar em conta ‘características regionais’.

Nathalia Passarinho Do G1, em Brasília
O novo ministro da Educação, Cid Gomes, defendeu nesta sexta-feira (2), ao receber o cargo do antecessor, Henrique Paim, uma reforma no currículo do ensino médio das escolas brasileiras que leve em conta as diferenças culturais dos estados.

“Temos como grande meta melhorar a qualidade do ensino fundamental. No ensino médio, além de ampliar o acesso, reformar o currículo, compreendendo as características regionais de cada estado”, afirmou.
A cerimônia de transmissão do cargo foi realizada no Ministério da Educação. O plenário ficou lotado e contou com a presença de ministros, parlamentares e reitores de universidades federais.
Em discurso, Cid Gomes afirmou que, após os esforços dos governos Lula e Dilma pela redução da desigualdade e combate a fome, é chegado o momento de trabalhar pela "inclusão pelo saber".

“Brasil pátria educadora. Este é o lema do segundo governo da nossa presidenta Dilma Rousseff. Como disse também nossa presidenta, a educação será a prioridade das prioridades. O Brasil nos últimos 12 anos teve grande êxito com políticas sociais e de segurança alimentar, permitindo que o Brasil saísse do mapa da fome. Agora o novo desafio é o da inclusão pelo saber. A educação é o caminho certeiro para o desenvolvimento humano”, disse.
Após a cerimônia, em entrevista aos jornalistas, Cid Gomes explicou que a reforma no ensino médio será discutida com educadores e diversos setores da sociedade antes de ser implementada num prazo de até dois anos.
“Acho que, começando agora, em dois anos podemos ter a sua implantação”, afirmou. Segundo Cid, as mudanças curriculares ainda serão definidas em “ampla discussão” com educadores e demais setores da sociedade.
Ele defendeu, porém, que os estudantes tenham  contato maior com matérias que possam embasar os cursos que pretendem seguir nas universidades.
Na França, por exemplo, os alunos decidem se querem se aprofundar em matérias de humanas ou exatas. “Eu pessoalmente defendo que seja oferecido aos estudantes de ensino médio um aprofundamento nas áreas que eles tenham interesse”, ressaltou.
'Desigualdades educacionais'
Ao discursar antes de transmitir o cargo para Cid Gomes, Henrique Paim afirmou considerar que os governos Lula e Dilma conseguiram reduzir as “desigualdades educacionais”. Ele citou a instituição de cotas nas universidades como política de inclusão social.

“Inauguramos um processo de valorização da universidade pública e conseguimos implantar a lei de cotas, que considero a política mais importante, permitindo que negros, indígenas e pessoas de escolas públicas conseguissem acessar as universidades federais”, afirmou.
Salário dos professores
Em entrevista coletiva concedida ao final da solenidade, o novo ministro da Educação afirmou que o reajuste do piso salarial dos professores em 2015 deverá ser definido na próxima semana. Ele não quis, porém, adiantar o valor.

“O piso é pago por estados e municípios e ele já tem balizamento definido por lei. Quero conversar com representantes de quem vai receber e com quem vai pagar antes de anunciar publicamente”, afirmou. 
Cid Gomes também negou ter dito que professores devem trabalhar por paixão e não por dinheiro. Essa suposta declaração do ex-governador do Ceará tem circulado pela internet e virou alvo de piadas e críticas. Aos jornalistas que cobriam a cerimônia de transmissão de cargo, Cid disse que professor precisa ter vocação, mas também boa remuneração.
“O que eu disse é que qualquer servidor público, seja ele vereador, governador, médico, deputado, professor antes de qualquer coisa precisa ter vocação. É um espaço que você tem por natureza a posição de sacrifício pessoal. Claro que você tem que ter boa remuneração. Eu nunca disse que não. Seria um contrassenso porque sou filho de professores. Até por experiência pessoal sei da importância de ter boa remuneração”, afirmou.
Perfil
Cid Gomes integra uma família com tradição na política do Ceará, estado que governou de 2007 até esta quinta-feira (1). Filho de prefeito, irmão de um ex-ministro de Estado e de um deputado estadual, Cid Gomes é natural de Sobral, município do sertão cearense, onde os Gomes dão nome a vias públicas e escolas.

No ano passado, ele se desfiliou do PSB após entrar em rota de colisão com o então presidente nacional do partido e governador de Pernambuco, Eduardo Campos – morto em agosto deste ano em um acidente aéreo no litoral de São Paulo.
O futuro ministro decidiu deixar a sigla ao lado de aliados cearenses – incluindo o irmão mais velho, Ciro Gomes – no momento em que Campos rompeu com o governo Dilma Rousseff para se lançar na corrida pela Presidência.